Evento sediado pelo Colégio Sinodal encerrou na manhã de sábado. Próxima edição está agendada para 2026
“Escola talvez seja lugar de frear a aceleração inútil e vazia que o mundo contemporâneo nos faz acreditar que seja a melhor solução, velocidade que vai esvaziando nossa experiência. Na escola acontecem as coisas sob outra perspectiva, é lugar de reinventar a vida com os pés fincados na realidade. Educação é lugar de contar histórias, de conversar, de viver e de experienciar, espaço de inventar a vida. A invenção é a nossa saída enquanto humanidade.” A citação é do psicólogo, escritor e Doutor em Ciências da Educação, Alessandro Marimpietri, que abordou o tema “Conexões com o novo” no último dia do 34º Congresso da Rede Sinodal de Educação, que ocorreu de 18 a 20 de julho, e foi sediado pelo Colégio Sinodal.
Ele foi palestrante na manhã de sábado para um Anfiteatro Padre Werner, na Unisinos, lotado por mais de 920 profissionais de educação de 45 escolas da RSE de todo Brasil. “Temos que nos adaptar o tempo inteiro. Professor, aluno e escola são, hoje, a representação da capacidade de se adaptar ao novo. Essa plateia terá que inventar um jeito novo de fazer educação, ‘trocar o pneu com o carro andando’. Há coisas que necessariamente precisamos reinventar, o que não quer dizer que tudo que aconteceu no Século XX seja ruim e o que é novo seja bom. A escola deve ser uma escola do presente, mas que também reverencia o passado para que tenha uma chance de ser uma escola no futuro. Invistam tempo oportunizando que seus alunos aprendam a pensar. A experiência não pode dar lugar à reprodução”, alertou, perguntando aos professores: “como vocês querem ser lembrados daqui a 40 anos?”.
A discussão sobre a inteligência artificial na educação tomou proporções de destaque no Congresso, e Marimpietri foi numa linha de atenção à humanidade. “Não somos coisas, somos pessoas. A escola privilegia a chance do humano ser melhor, de aprender e de se desenvolver. A educação muda pessoas, e essas pessoas mudam os grandes dilemas coletivos da sociedade. O trabalho do professor é fazer gente ser mais gente. Eduquemos alunos para a autonomia, que a escola seja para cada um e para todos, um lugar de convivência, de diferenças e de inclusão. Escola não pode se transformar num lugar árido e espinhoso. É lugar onde me reconheço, onde sou e não apenas onde estou. Tudo isso é possível por meio do afeto, do amor que muda o cérebro. Sem base afetiva sólida não conseguimos nada”, concluiu, emocionado.
A jornada
Na palestra “Nossa jornada”, a Mestre e Doutora em Educação, professora Lúcia Schneider Hardt, trouxe uma síntese das temáticas trabalhadas ao longo do evento. A instantaneidade da cultura digital norteou a apresentação, oportunizando as conexões das relações do passado no presente e na construção do futuro. “Fomos provocados, sabemos que precisamos da tecnologia, ninguém nega que elas ajudam em diversas frentes, inclusive nas próprias articulações pedagógicas e educacionais. Mas o que queremos é a presença das tecnologias e das humanidades. Temos a necessidade de conectar novamente livros, por exemplo, trabalho de encantamento feito pelos professores, que deixam marcas e fazem a gente prosseguir, criando a própria originalidade. Conectar é mais do que juntar, é entrelaçar vidas, pensamentos e sonhos que criam nexos para alçar novos voos”, encerrou.
De pessoas para pessoas
O último bloco do Congresso contou com culto e pregação da pastora presidente da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), Sílvia Beatrice Genz, que falou em oportunidades de aprendizado e convívio, além de mencionar os 200 anos da imigração alemã e da presença luterana no Brasil. “Desde o início nossos antepassados enfrentaram dificuldades. Por terem como objetivo condições de uma vida digna, nessa caminhada também edificaram escolas para servir à educação, à cultura, à religiosidade e, especialmente, para a formação de seres humanos. Os nossos professores são testemunhas disso, numa construção continuada”, disse, mencionando os benefícios e carências da inteligência artificial. “Como ela vai lidar com alguém que está com o coração machucado, alguém que vem de casa com seus problemas e não consegue produzir em sala de aula? A inteligência artificial é necessária, mas não é o suficiente sem a participação de cada pessoa. Os professores sempre serão importantes para que não sejamos dominados por qualquer coisa que nos é apresentada. O ensino com amor continua a transformar vidas”, finalizou.
Homenagens e agradecimentos
Por fim ainda houveram homenagens, em especial às escolas participantes e à comissão organizadora do Congresso, seguida de agradecimentos.
O diretor geral do Colégio Sinodal de São Leopoldo, Ivan Renner, falou de relações. “Ouvimos, percebemos e trouxemos para dentro de nós diversas inquietações, o que é muito importante, especialmente na educação. Ao mesmo tempo, comprovamos que as escolas estabelecem relações para a vida, caminhando com gente que agrega valor, onde gente educa gente pelo melhor para si e para o outro. A escola sempre deve ter algo a dizer nessa construção da convivência e da vida”, frisou.
O diretor executivo da Rede Sinodal de Educação, Jonas Rückert, destacou a exponencialidade do Congresso. “Mostrou o quanto é necessário estarmos juntos e, sempre que possível, presencialmente, para tratarmos das mais diferentes pautas com esse olhar da coletividade, de responsabilidade nas ações na formação de lideranças e da educação de humanos para humanos”, valorizou, agradecendo a todos os envolvidos na organização e todas as ações que concatenaram ao propósito do evento no pertencer, refletir e agir. “Olhando para a diversidade das linhas de trabalho das palestras e oficinas, tivemos abordagens muito perspicazes e sensíveis, com sinergia entre as pautas, o que também foi valorizado pelos congressistas”, disse.
Com encontros a cada dois anos, a próxima edição do Congresso está agendada para 2026, com sede a ser confirmada. “Buscamos que o próximo seja o Congresso 1000, ou seja, com a presença de mil professores da nossa Rede Sinodal de Educação”, finalizou Rückert.
Texto: Leandro Augusto Hamester